Em que pese o raquitismo das manifestações, as manchetes de alguns jornais e de certa revista semanal remetem-nos a um mundo parecido com aquele da Praça Tahir, no Cairo, nos dias que precederam à queda do ditador Hosni Mubarak. Tudo se passa como se o país estivesse ruindo e uma nova ordem prestes a emergir. Obviamente, não descarto a possibilidade de que parcelas da população se deixem seduzir pelo canto da sereia e, em um futuro próximo, tomem as ruas e praças das grandes cidades brasileiras com antigas bandeiras da UDN nas mãos. Não parece ser essa a possibilidade mais forte, no entanto.
Quem, em domínio razoável de suas faculdades mentais, colocar-se-ia contra o combate à corrupção? O problema é que sabemos, pelo menos desde os tempos em que Carlos Lacerda incitava os militares contra Getúlio Vargas, que essa é a "bandeira de luta" que resta aos que não possuem mais bandeiras no terreno da política. O moralismo é o ocaso de qualquer política. É, acima de tudo, a aversão conservadora ao embate de posições no espaço público. Especialmente quando essas posições são alimentadas por interesses legitimamente construídos no duro chão da vida social.
Por Edmilson Lopes Júnior
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